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AVELÃ: OPORTUNIDADE E ALTERNATIVA RENTÁVEL

Neste artigo pode ficar a par de um exaustivo retrato sobre a avelã, em Portugal e no Mundo, e todos os dados mais relevantes sobre a cultura. Um artigo escrito por Alexandre Castilho (Diretor Geral da Hidro-Ibérica) e António Machado (Agromillora) publicado em www.agriterra.pt


1. Situação corrente de produção, exportação, importação e consumo

Ao longo desta última década, tanto a produção como o consumo mundial de avelã têm apresentado um crescimento sustentado, sendo as variedades produzidas específicas de cada país e adaptadas às suas condições edafo-climáticas e respetivos mercados.
Os sistemas de plantação nas culturas lenhosas, em Portugal e em todo o mundo, apresentam uma tendência geral para a intensificação, justificada pelo aumento da eficiência, sustentabilidade e rentabilidade que estes sistemas apresentam. Esta mudança de paradigma, intensificação dos compassos de plantação que permitem formar sebes, apresenta múltiplas vantagens como sejam: o aumento da precocidade na entrada em produção, a redução da mão-de-obra, aumento da mecanização das operações culturais, maior aproveitamento dos recursos solo e radiação solar, ou seja, é conseguido o aumento da eficiência na utilização dos fatores de produção.

Produção em Portugal e pelo mundo:

Portugal, pela sua localização geográfica, apresenta condições excelentes para uma boa produção de frutos secos e a procura mundial pela avelã portuguesa tem vindo a aumentar, essencialmente por questões relacionadas com a alimentação e a saúde. Alexandre Castilho, Director Geral da Hidro-Ibérica, define que as zonas tradicionais de produção de avelã em Portugal se concentram nas regiões Centro e Norte, principalmente nas Beiras, na região de Viseu, e em Trás-os-Montes.

Como é sabido, a evolução na produção de frutos secos demonstra um crescimento claro. De uma formal geral são a amêndoa, a noz e o pistacho os que lideram a produção mundial.

A distribuição da produção da avelã é bastante fácil de entender já que são poucos os países produtores a nível mundial e, portanto, representam grande parte da mesma.

A nível mundial, a produção situa-se maioritariamente no Hemisfério Norte, estendendo-se pelos países europeus mediterrânicos (Itália, França, Espanha Portugal e Turquia e vários países do Sudoeste Asiático (Geórgia, Irão, Azerbaijão), Ásia Central (Cazaquistão), Extremo Oriente (China e Mongólia), Chile e parte dos EUA.

Este ranking é liderado pela Turquia, país que tem também a maior superfície desta cultura, cerca de 63% do total mundial (que ronda 1 milhão de toneladas de avelã, com casca). A Alemanha, Canadá, Rússia e China são os maiores consumidores e importadores de avelã.

Em geral, a procura por este fruto tem vindo a aumentar no mundo, uma vez que os consumidores estão cada vez mais interessados em produtos naturais e saudáveis. É sabido que a avelã, tal como a castanha, não tem glúten, é rica nas vitaminas E, B1, B2 e pró-vitamina A e em macro e microelementos benéficos para a saúde, ajudando a evitar doenças cardiovasculares e a aterosclerose. Daí que a sua maior utilização se encontre na indústria alimentar, embora também se utilize nas áreas da saúde e da cosmética.

Caraterização dos pomares:

Os pomares de aveleiras modernos são constituídos por arvores formadas a partir de um único tronco principal e posterior formação da copa em sebe (densidade de plantação aprox. de 1.250 plantas/ha) ou em copa aberta (densidade de plantação aprox. de 416 plantas/ha).

A intensificação dos pomares implica um menor volume de copa, o que possibilita uma maior produção por hectare, o aumento do período produtivo, a mecanização das operações culturais e um uso mais eficiente dos inputs, conduzindo a uma produção mais sustentável.
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O consumo médio anual de avelã tem registado uma tendência de crescimento, com um aumento do consumo per capita particularmente importante na China e Rússia.

Consumo de avelã:

Na última década, à semelhança de outros frutos secos, a avelã tem vindo a adquirir uma importância especial face ao seu consumo mundial crescente, registando um crescimento médio anual da ordem dos 6%.

Este cenário cria perspetivas interessantes para a instalação da cultura sob a forma de novos modelos agronómicos modernos e eficientes. Além disso a inovação e tecnologia disponível, a introdução de novas variedades, a perceção por parte do consumidor da avelã como sendo um fruto saudável, a preocupação cada vez maior com o bem-estar, a produção sustentável e desenvolvimento de importantes empresas e grupos económicos na produção, transformação e comercialização fazem com que o futuro seja promissor.

O consumo médio anual de avelã tem registado uma tendência de crescimento, com um aumento do consumo per capita particularmente importante na China e Rússia. Nos últimos 5 anos, verificou-se um crescimento no consumo mundial da ordem dos 30%, podendo esta tendência beneficiar fortemente os países produtores.

2. Situação atual da cultura

A amêndoa, a noz e a avelã são as três espécies de frutos secos mais produzidas em Portugal. A produção de avelã situa-se maioritariamente a norte do rio Tejo. Esta cultura requer vernalização (a indução floral é iniciada a partir de temperaturas inferiores a 7°C – 700 a 1.200h de frio). As temperaturas invernais e estivais associadas à acumulação de horas de frio são fundamentais para completar o ciclo anual vegetativo.

Segundo Alexandre Castilho (Hidro-Ibérica), é fundamental efetuar uma análise pormenorizada das normais climatológicas, de forma a poder disponibilizar o volume de água necessário ao longo do ciclo da cultura. As diferentes necessidades hídricas da planta ao longo do ciclo da cultura devem ser uma das bases para se dimensionar corretamente o sistema de rega gota-a-gota, o mais eficiente neste caso. As necessidades hídricas rondam os 2.500-3.000 m3/ha/ano e a plantação deve ser feita preferencialmente no período de repouso vegetativo (inverno), sendo que a colheita ocorre normalmente entre os meses de setembro e outubro, embora existam variedades mais precoces ou mais tardias.

A aveleira tem necessidades hídricas inferiores a outras espécies de frutos secos, sendo o período mais exigente entre março e agosto, quando as necessidades hídricas das plantas são maiores. É fundamental efetuar uma boa gestão da rega nesta fase de forma a garantir uma produção em quantidade e qualidade.

Uma rega eficiente e controlada, associada a um ajustado plano de fertilização, permitirá disponibilizar água e nutrientes em alturas que o solo não o poderia fazer, ou por falta de fertilidade ou por falta de disponibilidade hídrica.

O responsável da Agromillora, António Machado, explica que esta cultura tem um ciclo fisiológico não muito distinto das amendoeiras ou nogueiras, contudo as necessidades hídricas são inferiores, entre os 60% e 80%. Os solos deverão ser profundos e de textura franca ou franco-argilosa com subsolo permeável e o pH de neutro a ácido.

Segundo António Machado (Agromillora), do resultado de vários ensaios e parcerias com centros de investigação, na Península Ibérica, as variedades que melhor se adaptam às condições edafo-climáticas, a norte do Tejo, e que após melhoramento genético asseguram produções elevadas e constantes são as variedades Tonda di Giffoni, Barcelona e Tonda di Romana.

Importa referir mais uma vez que a chave do sucesso para a homogeneidade da plantação, e como consequência da produção, está relacionada com o facto das plantas serem obtidas por micropropagação clonal, o que quer dizer que geneticamente são idênticas umas às outras.

3. Novos modelos de cultura

O avelanal é uma cultura que tem revelado muito interesse para os produtores, dada a sua rusticidade, baixas necessidades hídricas, exigir poucos encargos de exploração e permitir a mecanização das operações culturais de manutenção e colheita.

O consumo da avelã, a nível mundial, tem vindo a crescer a olhos vistos e os grandes grupos económicos, nomeadamente o Grupo Ferrero Rocher, fomentam a instalação de novas plantações com acordos estabelecidos entre a indústria e os agricultores. É por isto também que se tem assistido a uma reconversão de antigas áreas produtoras de fruta fresca em áreas onde o avelanal é agora uma realidade, em sintonia com a crescente procura e os novos hábitos alimentares do consumidor.

Na Europa constata-se um crescimento de explorações agrícolas de aveleiras, cada vez mais profissionais, com elevada especialização e com uma elevada orientação para a sustentabilidade.

As alterações climáticas dos últimos anos, associadas à instabilidade e incerteza no comportamento do clima têm vindo a condicionar as produções de avelã em todo o mundo. As guerras sociais, tensões comerciais, alterações climáticas, o aumento da população mundial e as políticas agrárias de conservação dos recursos naturais são alguns dos fatores que também podem condicionar fortemente o preço da avelã.

A saúde, o bem-estar e a sustentabilidade orientam a adequação de produtos considerados de topo no setor agroalimentar, como os frutos secos. Há um crescimento global do interesse pelos frutos secos e pelas suas propriedades, sendo a baixa pegada ecológica um fator de interesse para o consumidor moderno.

 

4. Inovação e melhoramento genético

Segundo António Machado (Agromillora), a disponibilidade de plantas de qualidade genética e sanitária garantida, tanto do ponto de vista de autenticidade varietal como do seu estado sanitário, são a chave para a moderna fruticultura, e em específico para o caso das aveleiras que tem vindo a ter uma evolução mais pausada, quando comparada com outras espécies.

Durante muitos anos, a aveleira foi cultivada tradicionalmente, contudo tem vindo a registar-se uma alteração promovida por alguns viveiristas, nos últimos anos, recorrendo a “plantas mãe” num processo controlado que garante a autenticidade varietal/clonal e o seu estado sanitário. Tem-se optado por utilizar técnicas de propagação como sejam a micropropagação, também conhecida como propagação in vitro. Neste caso a multiplicação de plantas é feita de forma totalmente controlada e mantém-se assegurada a qualidade sanitária bem como a homogeneidade das plantas necessária. Uma propagação clonal garante que as plantas são idênticas geneticamente à planta-mãe, revelando vantagens muito importantes quando se compara com o método tradicional de propagação em campo aberto. De notar a importância que, com a utilização desta técnica, não existem factores bióticos externos passíveis de contaminar as plantas na sua produção. A Agromillora é um viveiro com mais de 20 anos de experiência em produção de plantas recorrendo à multiplicação de plantas in vitro.

As variedades disponíveis são americanas ou europeias, ambas apresentando diferenças significativas quanto ao comportamento agronómico, tamanho do fruto, aptidão industrial ou para consumo em fresco. Destacam-se, entre outras, as variedades:

    Europeias: Tonda Giffoni, Tonda Romana, Tonda Gentil delle Langhe, Barcelona, Negret e Pauetet;
    Americanas: Ennis, Yamhill, Jefferson, Theta e Sacajawea.

A aveleira (Corylus avellana L.) é uma espécie monóica, isto é, apresenta flores femininas e masculinas na mesma planta. A sua polinização é estritamente anemófila (pelo vento), contudo as flores masculinas e femininas da mesma planta apresentam uma maturação desfasada no tempo e incompatibilidade genética cruzada, o que leva a que nem todas as variedades sirvam como polinizadoras. Recomenda-se, assim, o recurso a variedades polinizadoras na plantação, de modo a garantir uma correta polinização.

Um dos aspetos chave para o desenho de uma boa plantação, com o objectivo de obter uma boa produção, consiste na correta seleção das variedades produtivas e das respetivas variedades polinizadoras, assim como o seu número e disposição em campo.

Recomenda-se habitualmente um desenho onde cada linha possua apenas uma variedade e contar com uma percentagem de variedades polinizadoras entre os 8% e 12%. Entre cada 6-9 filas da variedade produtiva (variedade a polinizar) deve ser colocada uma variedade polinizadora, sendo que devem ser utilizadas duas variedades polinizadoras, de forma alternada.
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5. Plantação, colheita e escoamento

O compasso de plantação recomendado varia em função de vários fatores, nomeadamente do custo/investimento pretendido. A plantação realiza-se preferencialmente no sentido N-S e a distância entre as linhas deverá ser superior a 4m, por forma a garantir as distintas operações culturais. Recomenda-se sempre uma distância mínima entre plantas de 2m. Desta maneira, pelo comportamento agronómico desta espécie e para o estabelecimento de uma sebe bem formada o compasso mais reduzido que se deverá utilizar é de 4 x 2m, isto é 1250 plantas/ha.

Com diferença de outros frutos secos cultivados em alta densidade onde a colheita é feita com máquinas cavalgante, como no caso do amendoal em sebe, as avelãs são colhidas directamente do solo, após a sua queda de forma natural.

Nestes pomares, a colheita é também mecanizada e as operações são efetuadas com recurso a equipamentos idênticos aos utilizados na colheita da castanha Os frutos são colhidos por um sistema “tipo aspirador”, podendo ser adaptados os equipamentos da castanha. A produtividade varia, dependendo das variedades e das condições climatéricas, rondando habitualmente os 2.500kg/ha.

Sobre os custos de instalação de um pomar moderno de aveleiras, recorrendo a um Projecto Chave na Mão, Alexandre Castilho (Hidro-Ibérica), refere que “é necessário estudar bem os custos em cada local e adianta que, para rentabilizar máquinas próprias, será necessário implementar uma área mínima de 8 a 10 hectares. Abaixo disso, poder-se-á trabalhar com equipamentos partilhados, de uma OP, por exemplo”.

Um estudo recente sobre a cultura da aveleira indicava que a instalação de um hectare de pomar moderno, mecanizado e regado, equivale a um investimento pouco superior a 10 a 15 mil euros por ha (Projecto Chave na Mão). A previsão é de que o montante investido possa ser recuperado entre seis e oito anos após a implementação, obtendo-se lucro daí em diante. A projeção considera um preço médio de venda da avelã, conservador, de 2,5 euros por quilo. Neste momento, há uma garantia de escoamento da produção, incentivada pela conhecida marca de chocolates Ferrero Rocher, que tem mostrado bastante interesse na compra da avelã produzida em Portugal.

António Machado salienta que “do ponto de vista técnico o avelanal não é uma cultura muito exigente contudo requer algum conhecimento técnico, em especial se conduzido em alta densidade (sebe)”. Adianta ainda que “a produção em modo biológico deve ser considerada já que a incidência de pragas e doenças, comparativamente a outros frutos secos, é inferior, pelo que se pode criar um valor acrescentado, tanto do ponto de vista económico como de qualidade do produto final”.



artigo escrito por Alexandre Castilho (Diretor Geral da Hidro-Ibérica) e António Machado (Agromillora) publicado em www.agriterra.pt

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